Os processos de globalização do final do século passado, com destaque para as relações comerciais de mobilidade dos fatores produtivos, além da preocupação global com a segurança alimentar, formaram uma nova configuração das relações entre países e regiões. Em função disso, o Brasil, com grande participação na produção e comércio de produtos agropecuários, começou a ganhar ainda mais destaque a partir das melhorias de um ambiente econômico mais estabilizado, ainda impulsionado pelo crescimento e desenvolvimento de países potencialmente demandantes do agronegócio brasileiro.

 De acordo com Wilkinson (2010, p. 33)[1], mesmo no mundo das commodities a competitividade não está restrita a vantagens comparativas, pois envolve decisões estratégicas e capacidades de liderança para se manter em mercados consolidados e construir uma presença em novos mercados.

Essa entrada e busca por novos mercados, bem como a expansão dentro dos mercados em que o Brasil já está inserido, deveria ocorrer juntamente com um processo de agregação de valor às commodities, ou seja, através da transformação em produtos industrializados. É através de uma agroindústria inovadora e competitiva o caminho mais curto para se alcançar esse objetivo.

A agroindústria reúne o conjunto de atividades que vai desde o simples beneficiamento de produtos agropecuários até atividades tecnologicamente complexas e de maior agregação de valor às matérias primas agropecuárias, correspondendo ao último nível da cadeia do agronegócio e englobando um conjunto de atividades bastante heterogêneo. Além disso, esse processo também é alternativa para o mercado interno, gerando mais renda e mais consumidores potenciais para o agregado da economia.

Conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) (2015)[2], esse processo tem se acelerado no período entre 2002 e 2014, quando o faturamento da indústria de alimentos passou de R$ 119,8 bilhões para R$ 424,5 bilhões, o que representou um aumento de 254%, e as vendas do total da indústria de alimentos no mercado interno passaram de R$ 104,4 bilhões em 2002 para R$ 410,1 bilhões em 2014, ou seja, um crescimento de 293%. Já as exportações, incluindo bebidas, cresceram 281%, passando de US$ 10,8 bilhões para US$ 41,2 bilhões, no mesmo período.

Com relação ao contexto local e regional do Curso de Especialização em Gestão Agroindustrial, a reconhecida importância nacional do agronegócio e da agroindústria do Estado do Rio Grande do Sul, pode ser observada no âmbito da região onde está localizado o Campus da FURG, no município de Santo Antônio da Patrulha, reconhecido como "a terra do sonho, da cachaça e da rapadura". Do ponto de vista da expansão industrial e de investimentos, a região se destaca por estar situada entre dois modais rodoviários estratégicos no Estado, o que a torna interessante nos aspectos ligados a logística de produção e escoamento. Localiza-se próximo a Grande Porto Alegre, Litoral Norte e Serra Gaúcha, bem como do Parque Eólico de Osório e das bacias hidrográficas do Rio Gravataí e do Litoral Médio. Outro aspecto que destaca a região é sua economia diversificada, com sólida rede de fornecedores nas áreas metal mecânica e agroindustrial. Entre os produtos agrícolas, a região se destaca, entre outros, na produção de arroz, soja e cana-de-açúcar.

Então, a partir desse contexto em que o País e a Região estão inseridos, desde os processos de produção envolvendo diferentes elos de cadeias produtivas distintas até relações comerciais internacionais, forma-se um complexo sistema agroindustrial, no qual surge um conjunto de necessidades de agregação de valor e criação de riqueza, que se darão através do desenvolvimento de um conjunto de capacidades gerenciais.

A formação de um Curso de Especialização em Gestão Agroindustrial, proposta pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), campus Santo Antônio da Patrulha/RS (SAP) vem atender à necessidade de formação complementar, através de uma abordagem integrada que permita a convergência de dois ou mais campos do conhecimento para contribuir com a formação de um profissional com perfil diferenciado.

 



[1] WILKINSON, John. Transformações e perspectivas dos agronegócios brasileiros. Revista Brasileira de Zootecnia. v.39, p.26-34. 2010. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rbz/v39sspe/04.pdf> Acessado em Abril de 2016.

[2] ABIA. Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação. 2015. Disponível em <http://www.abia.org.br/anexos/FichaTecnica.pdf>. Acessado em Maio de 2016.